Uma breve nota sobre a Educação Física na Área de Linguagem
- educacaomoverse
- 23 de jan. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 6 de fev. de 2023
| Professor Convidado: Edison de J. Manoel | Quando se fala na vinculação da educação física com a linguagem na busca de uma justificativa para a inclusão desse componente na área de Linguagens é comum citar-se a expressão corporal e os gestos como motivo. Gestos e expressão corporal são componentes da comunicação não-verbal e, sem dúvida, são importantes. Todavia, pensar a educação física como constituinte das Linguagens vai muito além da comunicação não-verbal.
A constante referência ao gesto como justificativa da educação física na linguagem implica em tratar apenas dos meios. A linguagem é meio para a comunicação. Para comunicar, entretanto, é preciso que se faça uso de signos, de símbolos, que em contextos promulgam significados, sentidos. A comunicação só é possível na medida em que há signos e símbolos enredados entre si num contexto dando conteúdo e essa rede é partilhada de alguma forma entre aqueles que se comunicam.
A linguagem é um meio de comunicação, mas antes é um processo de significação das relações de um organismo, indivíduo e pessoa com seus mundos. Trata-se de um fenômeno básico da vida. Viver é se adaptar ao meio em que se vive e adapta-lo ao modo de viver. Adaptação exige conhecimento de quem se adapta sobre si em relação ao seu mundo. Só se conhece de modo amplo, profundo e diverso se signos são produzidos a partir das relações organismo-ambiente, indivíduo-mundo, pessoa-espaço. Linguagem e vida são interdependentes.
O mover-se corporal faz uso de uma linguagem particular pouco considerada e por isso mesmo pouco entendida. Talvez porque ela venha com o próprio surgimento da vida: a propriocepção. Propriocepção envolve os sentidos do corpo no espaço, e dos segmentos corporais entre si: direção de movimento, posição de uma parte do corpo e de todo corpo, grau de tensão muscular, velocidade e aceleração de deslocamento uma parte do corpo e de todo corpo. Não por acaso quem tratou da propriocepção já se referiu como consciência corporal, como memória motora, como a voz com que o corpo fala. Em nós, a propriocepção se enriquece ao se articular com a visão, a audição e além do tato. Uma pessoa ao se movimentar, mesmo no ato mais rotineiro e banal como pegar um copo com água, está colocando em ação um saber pré-histórico, um saber que como diz Tostão (Eduardo Gonçalves) ex-jogador da seleção brasileira de futebol e médico, é um “saber que antecede a compreensão humana”. A propriocepção só se torna base desse saber na medida em que media a produção de uma linguagem única que conjugamos aos nos movimentarmos. Essa conjugação produz sentidos da relação da pessoa com seu mundo, sentidos de duração e de deslocamento. Movimento, vale lembrar, implica sempre em tempo (duração) e espaço (deslocamento). Refletir sobre essa linguagem única é uma das finalidades de uma “educação física” componente que trata assim de uma linguagem cuja existência se dá porque se tem um corpo, porque se é um corpo.
A educação física propicia experiências formativas para que o estudante adquira consciência de que vida é movimento, movimento é vida na medida em que, ao se movimentar, ele ocupa e habita o ambiente tornando-o em espaços de ação pessoal, social e coletivo. Tornar o ambiente em espaços de ação permite situar e ao mesmo tempo dar sentido ao que se faz e usa na língua verbal como atividade física, exercício físico e práticas corporais. Não se trata de elaborar discursos sobre AF, EF e PC, mas sim fazer sentido, agir num processo de significação com o corpo e no corpo, com o mover-se e no mover-se nos diferentes espaços em que o estudante transita ao criar ele próprio consigo e com outros tais espaços.







